sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Descoberto um ovo estrelado no fundo do Atlântico



Na edição de amanhã (sábado) do jornal "Público" pode ler-se a curiosa história de uma estrutura geológica, em forma de ovo estrelado, descoberta 150 quilómetros a Sul dos Açores. Nesta imagem, obtida numa campanha oceanográfica da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), pode ver-se a forma mais ou menos circular dessa formação e que, na parte central, existe uma elevação, qual gema geológica. Será a cratera resultante do impacto de um meteorito? Será um vulcão de lama? É um mistério por esclarecer.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Livro sobre alterações climáticas em Portugal



Também tem a ver com o mar, por isso aqui vai um pouco de auto-promoção: "Portugal a Quente e Frio" (Livros D'Hoje) é o primeiro livro de divulgação científica dedicado especificamente às alterações climáticas no nosso país. Podem ficar a saber-se quais são os efeitos já visíveis das mudanças do clima em Portugal e o que os cientistas pensam que acontecerá daqui até 2080, em diversas áreas - desde o próprio clima (a chuva e temperaturas) até aos recursos hídricos, saúde, agricultura, costa, o turismo ou biodiversidade.
O oceano aparece referido de forma amiúde: fala-se da subida do nível do mar e do aumento da temperatura da água na costa portuguesa, da erosão costeira, das pescas ou de como o próprio oceano funciona como moderador do clima da Terra. O anticiclone dos Açores e o seu papel num fenómeno chamado Oscilação do Atlântico Norte é exemplo dessa relação que afecta desde o tempo que faz na Europa até às correntes oceânicas e as suas implicações na fauna marinha.
Exemplos? O peixe-porco, que é tropical, já assentou arraiais na costa portuguesa e há muita gente a comê-lo. A solha-das-pedras, que gosta de águas não muito quentes, está a desaparecer do estuário do Tejo. Como as águas do estuário têm vindo a aquecer, o lugar da solha está a ser ocupado pela dourada e pelo sargo-do-senegal.
Há muitos outros exemplos - para o mar e não só.

PS: eu e a Filomena Naves conhecemo-nos há mais de 15 anos, mas, como sempre trabalhámos em jornais diferentes, eu no "Público", ela no "Diário de Notícias", nunca tínhamos escrito nada em conjunto antes. Esta foi a nossa primeira aventura no mundo dos livros, uma bela aventura a quatro mãos.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Luso no Pavilhão do Conhecimento

O robô submarino Luso vai estar este fim-de-semana (12 e 13 de Dezembro) no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. É uma oportunidade para ver de perto este veículo capaz de descer até aos 6000 metros de profundidade e que tem sido utilizado pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental nos seus trabalhos de investigação do mar profundo.
Entre outras actividades, haverá ainda este sábado (às 16h30) palestras sobre o mar profundo e a vida nos fundos abissais, por Fernando Barriga (do Museu Nacional de História Natural) e Sandra Chaves (da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O último português na Antárctida



Aviso à navegação: este blogue vai transformar-se num espaço de divulgação do mar em sentido lato (e não apenas para acompanhar uma missão oceanográfica ao mar dos Açores), pelo que em breve terá algumas modificações.
Começando já a pôr em prática este objectivo: pode ler-se esta sexta-feira, na edição em papel do "Público" (no P2), um artigo sobre a aventura do último português na Antárctida.
O biólogo José Xavier, acabado de regressar à Europa, conta como foi viver na ilha de Bird e como é que as alterações climáticas na região estão a afectar a vida marinha, pinguins e albatrozes incluídos. Esteve nestas andanças, longe de tudo, nove meses. E as fotos que tem para mostrar são lindas. Nesta, apetece mesmo fazer a legenda: onde é que está o pinguim?

domingo, 15 de novembro de 2009

O robô submarino Luso vai estar perto de si

A notícia publicada na edição de papel do "Público", de sábado, numa versão mais longa:

Costuma estar longe dos olhares do público, ora no mar, a bordo de um navio, ora na sede da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), em Paço de Arcos, perto de Lisboa. Nos próximos dias, no entanto, o robô submarino Luso pode estar bem perto de si: é a estrela de um evento destinado ao público, no novo cais da sardinha do porto de Peniche.
Quem quiser ir até lá, entre sábado, domingo e segunda-feira (que é o Dia Nacional do Mar), a partir das 10h da manhã, pode acompanhar a equipa de pilotos do Luso e ver todas as suas operações, desde o lançamento à água a partir do cais, o mergulho naquela zona e a recuperação. Poderá ainda observar-se em tempo real as imagens que vão sendo captadas do fundo do mar pelo robô, ver filmes do oceano profundo na zona dos Açores ou utilizar um simulador de voo para conhecer os fundos oceânicos portugueses.
Neste evento de demonstração do Luso, comprado por Portugal em 2008 e que desce aos 6000 metros de profundidade, o público poderá ainda manipular um veículo operado remotamente (ROV) em miniatura, o Lusito, que mergulha até aos 70 metros. Haverá ainda tendas onde os visitantes poderão ficar a saber mais sobre o projecto de extensão da plataforma continental, que permitirá a Portugal reclamar jurisdição sobre o fundo do mar para lá das 200 milhas náuticas, e em que o Luso está a ser utilizado pela EMEPC. Ou sobre o Kit do Mar, projecto educativo destinado a sensibilizar os alunos do 2º e 3º ciclos para as ciências do mar.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Professores, bem-vindos a bordo



Helena Matias foi a primeira Professora a Bordo. Foi parar a este programa, lançado pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), por mero acaso. Aos 35 anos, esta professora de geologia e biologia na Escola Básica e Secundária de Carcavelos assistiu a uma reunião de divulgação sobre o programa Kit do Mar e lá encontrou a geóloga Raquel Costa, da EMEPC, que lhe falou do novo programa Professores a Bordo.
Pouco tempo depois, era o início de uma aventura, que a levou a bordo do navio “Almirante Gago Coutinho”: de 5 a 19 de Outubro, pôde conviver diariamente com cientistas durante uma campanha oceanográfica da EMEPC e do robô Luso ao mar dos Açores e viver tudo o que se passava a bordo, enjoos incluídos.
Tal como o Kit do Mar – que começou no concelho de Cascais e está a alargar-se a todo o país, destinado a alunos do 2º e 3º ciclos –, a ideia é sensibilizar os mais novos para as ciências e assuntos do mar. No caso do Kit (lançado pela agência municipal Cascais Atlântico, a Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar e a EMEPC), as escolas recebem um manual de professor para a Área de Projecto, fichas temáticas, brochuras informativas, um guia do litoral e um roteiro do mar.
Com o programa Professores a Bordo, iniciativa da EMEPC, o objectivo é pôr um professor a ver a ciência tal e qual se faz num navio e transmitir tudo isso aos alunos, contribuindo para o tão propalado regresso de Portugal ao mar.
Era a primeira vez de Helena Matias estava embarcada e, diga-se, suportou bem os enjoos, com a ajuda dos benditos comprimidos. Era vê-la grande parte do tempo sentada em frente ao computador portátil a actualizar o blogue que criou de propósito para acompanhar a missão (http://expedicaoacores.wordpress.com/). Os seus alunos e colegas professores podiam ir sabendo o que se passava a bordo. Não faltaram imagens da vida a bordo. “Eles podem perceber como funciona a ciência num navio de investigação”, dizia.
Também pôs as mãos na massa, por assim dizer, ajudando no trabalho científico. Era vê-la então de capacete e colete salva-vidas no convés, de roda do robô submarino, quando chegava do fundo do mar. Helena Matias ajudava a retirar as amostras de águas recolhidas, por exemplo.
A partir desta vivência no terreno, vão agora ser criados planos de aulas. Os alunos poderão também trabalhar algumas das amostras apanhadas na missão, como rochas, que Helena Matias trouxe consigo. E, já este mês, ela vai contar a sua experiência no Museu do Mar, em Cascais: será nos dias 16 (às 10h) e 18 (às 14h).
O fim da campanha oceanográfica significou o ponto final no blogue da professora. Para o ano, a experiência repete-se? Sim, responde Raquel Costa, coordenadora do programa Professores a Bordo. Em vez ser por convite, como este ano, haverá um concurso destinado preferencialmente aos professores do ensino secundário.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O fim de uma missão, mas ainda não é o adeus definitivo

É o adeus. A missão do robô submarino Luso terminou esta semana nos Açores mais cedo do que o previsto, por causa do mau tempo.
Estava programado que o Luso mergulharia nalguns bancos submarinos ao largo do arquipélago, como o Condor, para se fazer investigação para o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores. Vagas muito altas impediram esta parte da missão.
Os últimos mergulhos ocorreram no canal de São Jorge. Foram viagens ao fundo do mar essencialmente de reconhecimento geológico. Pelas câmaras do Luso, que transmitiam as imagens para bordo do navio "Almirante Gago Coutinho", viu-se também alguma vida. Mas não muita.
O navio já vem a caminho de Lisboa e traz consigo o robô, que pertence à Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, grupo criado pelo Ministério da Defesa.
É o adeus definitivo a este blogue? Ainda não. Há pequenas histórias da missão que ficaram por contar do tempo em que estivémos no navio: houve uma professora a bordo; houve um certo peixe muito destemido, cara a cara com o robô...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vídeo do mergulho no Lucky Strike

Excertos do vídeo feito pelo Luso durante o mergulho no campo hidrotermal Lucky Strike, a 1700 metros de profundidade, a 15 de Outubro, pode ver-se no "site" do "Público". Aqui: http://www.publico.pt/. Ou aqui: http://videos.publico.pt/. (Na imagem, uma chaminé hidrotermal, por onde são expelidos fluidos negros, compostos por água quente com metais).


Azáfamas "rovianas"





Antes de entrar na água, para mais um mergulho pelas profundezas oceânicas, o ROV Luso é o centro das atenções da equipa de cientistas, técnicos e militares a bordo do navio "Almirante Gago Coutinho", da Marinha. Muita é a azáfama. Quando regressa ao navio, por vezes ao fim de muitas horas a explorar o imenso azul, volta a ser alvo das atenções. Gera-se um frenesim à sua volta e no laboratório onde se preparam e guardam as amostras recolhidas. Ficam aqui alguns desses momentos.


Equipa do ROV e militares do "Almirante Gago Coutinho" colocam na água o "palito", como chamam a uma estrutura branca, com essa forma, que tem um emissor e um receptor do ROV, para que no navio se saiba sempre a posição do robô submarino.



Este é o cabo umbilical do ROV, por onde passa a energia que o alimenta e por onde chega ao navio toda a informação recolhida lá em baixo pelo veículo.





O ROV esconde-se mar adentro, ligado ao cabo umbilical, que é desenrolado à medida que o robô desce.



Patrícia Conceição, geóloga e futura piloto de ROV da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, fica por vezes na popa enquanto o ROV está a mergulhar. Está em comunicação constante com o piloto do ROV, que se encontra num contentor, de onde é comandado o veículo. Ela tem de estar atenta para que o cabo umbilical não se enrole.


 Quando o Rov regressa do mergulho e estaciona no convés do navio, a equipa vai recolher as amostras que traz lá de baixo. Aqui é a água das profundezas que está a ser retirada de umas garrafas especiais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nos blogues do "Público"

O Azul Profundo encontra-se a partir de hoje na lista dos blogues do jornal "Público", a que pode aceder-se no cabeçalho do "site". Ou então directamente, nesta morada: http://static.publico.clix.pt/sites/blogues/default.aspx

sábado, 24 de outubro de 2009

Reportagem na revista "Pública"

Amanhã, na revista "Pública", pode ler-se uma reportagem sobre o primeiro mergulho do Luso nas fontes hidrotermais.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Uma surpresa em forma de tarântula



Assim que o Luso estacionou no navio, regressado do campo hidrotermal Lucky Strike, madrugada adentro, o convés entrou num frenesim. Andavam todos à volta do robô submarino, alguns empoleirados, capacetes e coletes salva-vidas envergados, a confirmar se o veículo chegou em condições do fundo do mar e a retirar as amostras que traz lá em baixo. Bichos, rochas, água e sedimentos: foi tudo para um laboratório, onde os cientistas se apinham num vaivém.
A bióloga Mónica Albuquerque, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, é um desses investigadores e, entre os mexilhões, camarões e sedimentos aspirados, deparou-se com algo que nunca tinha visto: um animal que parece uma tarântula em miniatura, tal como pode constatar-se na imagem publicada. Tem uns dois centímetros, duas patas da frente com garras e há duas mais pequenas na zona do abdómen. As patas têm pêlos e filamentos de bactérias.
“Nunca vi um bicho parecido com este. É uma surpresa total”, contou Mónica Albuquerque, que o fotografou à lupa e preservou em álcool. Ela e outra bióloga, Íris Sampaio, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, consultaram livros à procura de uma resposta. Pelo menos do grupo das aranhas-do-mar parece ser. Os estudos logo dirão se é uma espécie nova para a ciência ou para as fontes hidrotermais.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Nuno, o Pequeno Fumador



Voltei a Lisboa, ao jornal e à rotina. Mas a missão do robô português continua nos Açores, agora mais perto das ilhas, pelo que este blogue continuará a tentar acompanhá-la.
Houve quem aceitasse o desafio lançado há uns tempos no Azul Profundo, no “post” “Lucky Strike tem chaminés com nomes portugueses”. Nos comentários ao “post”, Hélder Pereira respondeu que, naquele campo hidrotermal, encontram-se nomes como Bairro Alto, Flores, Sintra, Mário Soares ou Nuno. É verdade.
Aliás, a chaminé Nuno tem uma história. Nuno Lourenço (na foto) visitou o Lucky Strike, em 1994, a bordo do submersível francês “Nautile”. Portanto, nessa missão francesa viu directamente este campo, a 1700 metros de profundidade, pelas janelas do “Nautile”, que é tripulado. Uma das chaminés deitava poucos fluidos e, como o geólogo estava a tentar deixar de fumar, alguém decidiu chamar-lhe Nuno, o Pequeno Fumador.
O investigador esteve agora de regresso ao Lucky Strike, a chefiar a missão do Luso, pilotado à distância e que transmite as imagens captadas no fundo do mar para bordo do navio “Almirante Gago Coutinho”. Terá tido a tentação de levar o Luso a visitar a “sua” fonte?

sábado, 17 de outubro de 2009

O primeiro mergulho totalmente português nas fontes hidrotermais

A 1700 metros de profundidade, o Lucky Strike foi visitado pela primeira missão totalmente portuguesa às fontes hidrotermais. Início: quase cinco horas da tarde de quinta-feira. Fim: passava das três da madrugada de sexta-feira. O ROV Luso passeou-se pelo fundo do Lucky Strike e andou à procura das fontes hidrotermais e das suas chaminés “fumegantes” com água, sais e metais. Encontrou sete fontes, incluindo a Torre Eiffel, uma coluna com 20 metros de altura, pejada de mexilhões. Pode ler-se mais na edição de hoje do jornal “Público”.
Ontem, voltámos ao Menez Gwen. O ROV entrou na água ao final da tarde e ainda desceu os cerca de 800 metros até ao campo. Voou perto do chão e chegou a deparar-se com uma zona hidrotermal difusa – o Menez Gwen 2 –, com os famosos mexilhões presentes nestes ambientes. Só que vários problemas técnicos levaram ao fim do mergulho. Primeiro, o ROV tinha um dos propulsores verticais avariados, depois um dos seus braços não respondia aos comandos enviados a bordo do navio. Voltou para bordo, ainda andaram de roda dele a tentar reparar os problemas. Mas o mergulho não pôde ser retomado.
É o fim desta parte da missão. O navio “Almirante Gago Coutinho” está agora de regresso à Terceira e, a partir daí, a missão oceanográfica andará perto das ilhas açorianas. Para nós, será altura de desembarcar (embora algumas histórias possam contar-se depois no Azul Profundo).

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Entretanto, um saltinho a Ponta Delgada



Aqui fica a foto prometida da saída em Ponta Delgada.
De baixo para cima, alguns membros da equipa do robô submarino: Christian Landegren (piloto-instrutor do ROV), Helena Matias (professora do ensino básico e secundário), Mónica Albuquerque (bióloga), Ágata Dias (geóloga), Nadine Pereira (engenheira geóloga), Nuno Lourenço (geólogo, chefe da missão), António Calado (engenheiro ambiente, coordenador do ROV), Rui Gomes (engenheiro electrotécnico, piloto do ROV) e John Roddy (piloto-instrutor do ROV).

Estrelas cintilantes no mar

Ontem à noite, só mar e mais mar à volta, as estrelas sobressaíam como nunca as vemos na cidade, geralmente ofuscadas por tanta luz. Só algumas nuvens mais teimosas interferiam nesta visão. Um céu assim faz qualquer um sentir-se pequeno. Outra surpresa luminosa da noite: na popa do navio, na zona onde as hélices revolvem o mar, esbranquiçando-o, bolinhas de luz iam ficando para trás no meio da espuma. Era zooplâncton luminescente. Quem disse que só há estrelas deslumbrantes no céu?

Lucky Strike tem chaminés com nomes portugueses




Adeus Menez Gwen. Passámos o dia de ontem às voltas, com o navio de um lado para o outro, à espera que as condições do mar melhorassem. Em vão. Avançámos durante esta noite para sul, para o campo hidrotermal Lucky Strike, à procura de uma aberta no mar. Parece que é desta vez que o ROV vai mergulhar num campo hidrotermal. Acabaram de aprontá-lo agora.
O Lucky Strike foi o primeiro campo descoberto em águas portuguesas, em 1992, a 180 milhas naúticas a Sudoeste do Faial, por uma equipa norte-americana. Numa dragagem ao fundo do mar, apanharam um bocado de uma chaminé.
Fica a cerca de 1700 metros de profundidade, numa zona com três pequenos vulcões a rodear um lago de lava arrefecida. É à volta desse lago que estão as chaminés hidrotermais (assinaladas no mapa batimétrico com triângulos). Lançam fluido negro, carregado de metais, que chega a ultrapassar os 330 graus Celsius.
Uma chaminé chama-se Torre Eiffel, outra Tony Blair. Outras têm nomes portugueses. Alguém os consegue adivinhar?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Menez Gwen, o monte branco do Atlântico



Partimos segunda-feira à tarde de Ponta Delgada, chegámos hoje de manhã (quarta-feira) ao Menez Gwen. A 140 milhas a sudoeste do Faial, este campo hidrotermal (descoberto em 1994) encontra-se por baixo dos nossos pés, a 850 metros de profundidade.
Lá em baixo, as fontes hidrotermais estão no meio de um vulcão que se abriu (zonas a encarnado no mapa), ao ser partido por uma zona de fractura na crosta terrestre, explica António Calado, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, enquanto acaba de preparar o mapa para publicarmos aqui. Nessa zona, formou-se crosta terrestre nova. Mais tarde, voltou a haver actividade e, no meio do vulcão que se abriu, nasceu um outro, mais pequenino (monte com topo encarnado): é onde estão as fontes hidrotermais de Menez Gwen, com cerca de cinco metros de altura, por onde sai água a 280 graus Celsius. Encontram-se assinaladas com pontinhos brancos no mapa.
Mas o tempo está a trocar as voltas à missão. Ondas de mais de três metros, vento entre 30 a 40 quilómetros por hora. O navio “Almirante Gago Coutinho” parece balançar ainda mais hoje. Por vezes, as ondas entram convés adentro. Para alguns, os enjoos voltaram.
Portanto, navegamos por cima do Menez Gwen, andamos às voltas, para cima, para baixo, à espera que o tempo melhore. Com estas condições, o robô submarino português não pode entrar no mar e descer ao Menez Gwen, que em língua bretã significa “monte branco”. O nome foi inspirado no facto de o fundo do mar neste campo ser branco, devido à presença de sulfatos de bário e cálcio.
Mexilhões (da espécie “Bathymodiolus azoricus”) gostam de colonizar as chaminés das fontes hidrotermais dos Açores, Menez Gwen incluído. Não existem noutra parte do mundo. Os camarões também gostam deste ambiente tóxico, alimentando-se de bactérias. Se está a pensar vê-los no prato, esqueça. Estão carregados de substâncias tóxicas.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Cola social

Trabalho, trabalho, trabalho, mas, quando é possível, algum divertimento. A equipa do ROV aproveitou a passagem forçada por Ponta Delgada no fim-de-semana, devido ao mau tempo, para ir dançar numa das noites. Kizomba, entre outras coisas, animou o grupo. Um pouco de divertimento é como cola social: aprofunda a ligação entre os membros de uma equipa, além de esvaziar a pressão do trabalho. (A prova, em foto, fica para depois, porque a Internet, no mar alto, é muito lenta e cara). A ciência segue dentro de momentos.

Parem de abanar a cama, por favor

O navio balançou a noite toda, a caminho das fontes hidrotermais Menez Gwen (chegamos amanhã de manhã). Não é que a ondulação tenha sido muito grande (três metros), mas batia de lado no casco do navio, o que o fazia abanar mais. Já sabíamos o que aí vinha: andaram a prender as cadeiras e tudo o que pudesse cair. Às vezes, parecia que íamos cair do beliche e a cabeça andava à roda. Resultado, nunca dormimos profundamente e hoje de manhã o corpo estava dorido de tanto lutar contra uma cama que não parava de mexer. Dava vontade de gritar: “Parem de abanar a cama!”

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Golfinhos à vista

Os golfinhos deram-nos as boas-vindas agora mesmo, à medida que Ponta Delgada fica para trás e nos fazemos ao mar aberto. Um momento de animação, que levou alguns a ir lá para fora, apesar da ondulação agitada e da água de um lado para o outro no convés baloiçante.

Partida para as fontes hidrotermais



Hoje à tarde vamos deixar Ponta Delgada em direcção às fontes hidrotermais de profundidade (embora o dia tenha acordado muito nublado, escuro e ventoso). Menez Gwen, Lucky Strike e Menez Hom são o destino. Em Menez Hom irá, na verdade, tentar descobrir-se a presença de fontes, que se suspeita existirem ali.
Esperemos que, depois de um fim-de-semana com os pés assentes em terra, os enjoos não recomecem com o regresso ao mar. Uma coisa é certa: o acesso à Internet será mais limitado.

Qual é o maior insulto em norueguês?

Era uma vez um noruguês, dois escoceses e muitos portugueses. Juntaram-se todos, pela primeira vez, no ano passado quando Portugal comprou o ROV Luso à empresa norueguesa Argus Remote Systems.
Os escoceses e o norueguês trabalham para a Argus como pilotos de ROV e vieram a Portugal dar formação a um grupo de portugueses, da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, sobre como pilotar o novo veículo submarino operado à distância. A bordo do “Almirante Gago Coutinho”, lá foram para a primeira missão do Luso, aos Açores.
Convívio puxou a convívio no fim dos mergulhos do ROV, com direito a bebidas e aperitivos, para descomprimir do “stress” de horas com o veículo dentro de água, e eis que as particularidades de cada língua vieram à baila. Os escoceses lembraram-se de dizer qual é o maior insulto que se pode chamar a alguém em norueguês.
Provocadores, os portugueses foram logo aplicar os seus novos conhecimentos junto do norueguês. E que lhe chamaram? “Escroto de abelha.”
Desde então, a expressão caiu no goto do grupo de pilotos de ROV portugueses, ainda em formação. Volta e meia, na missão agora em curso ao largo dos Açores, lá surge o “escroto de abelha” nas conversas. Não contentes com uma tradução, os portugueses reproduzem mesmo a versão original. “Humle pung.”
Claro está que, em troca, os escoceses e o norueguês também se tornaram entendidos em calão português. Não é muito difícil adivinhar o que aprenderam.

sábado, 10 de outubro de 2009

Em busca das fontes hidrotermais dos Açores



Estamos atracados em Ponta Delgada, onde chegámos esta manhã. O mau tempo aproxima-se do arquipélago açoriano, pelo que o navio onde estamos a bordo, o “Almirante Gago Coutinho” (na imagem, na altura atracado na ilha Terceira), procurou abrigo durante este fim-de-semana. A campanha oceanográfica continua para a semana.
Depois dos mergulhos nas Furnas de Fora, na bacia Hirondelle e no Banco D. João de Castro, todos nas redondezas das ilhas Terceira e São Miguel, a missão com robô submarino Luso seguirá para as fontes hidrotermais em profundidade, perto da Dorsal Médio-Atlântica.
Se não surgirem mais contratempos, Menez Gwen e Lucky Strike serão os campos hidrotermais a visitar pelo Luso, estacionado na popa do navio, à espera do próximo mergulho.
Tenciona-se também ir a Menez Hom, à procura das distintivas chaminés das fontes hidrotermais: embora não tenham sido aí ainda encontradas, os cientistas suspeitam da sua existência na zona. Excesso de metano na coluna de água, um dos gases libertados nas fontes hidrotermais, é um dos indicadores. Veremos se desta campanha oceanográfica resulta a descoberta de um novo campo hidrotermal na zona dos Açores.

Luso bateu o seu recorde de mergulho



O robô submarino Luso fez o seu mergulho mais fundo até agora: ultrapassou os três mil metros, no flanco sul da bacia Hirondelle, entre as ilhas Terceira e São Miguel, na madrugada de quinta para sexta-feira.
O recorde foi atingido ao 45º mergulho do ROV (comprado por Portugal em Fevereiro do ano passado a uma empresa norueguesa, por cerca de três milhões de euros). A estreia deu-se a 8 de Outubro do ano passado e a contagem vai agora em 46 mergulhos (no último, na sexta-feira, no Banco D. João de Castro, também entre as ilhas Terceira e São Miguel, desceu até cerca de 800 metros.
Três mil metros é metade da profundidade que o ROV consegue descer. Poucos países têm veículos submarinos que mergulham a 6000 metros, o que lhes permite visitar 97 por cento do fundo oceânico.
O que procuravam os cientistas, principalmente geólogos, no fundo de Hirondelle? Procuravam ter uma ideia mais clara de como foi construída a plataforma vulcânica em cima da qual assenta o arquipélago dos Açores. Os basaltos, resultantes de uma erupção, que o ROV apanhou lá em baixo podem ajudar a completar o quebra-cabeças da construção dos Açores.
Na foto, a geóloga Ágata Dias, da Faculdade de Ciências de Lisboa, corta a bordo do navio as rochas trazidas de Hirondelle. Assim pôde ver exactamente o que tinha em mãos, além de adiantar trabalho para análises posteriores.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mau tempo trama visita à zona de fractura Hayes

É muito fácil os planos saírem furados no mar. O tempo é um dos grandes culpados. Já houve planos trocados nesta missão do robô submarino português ao largo dos Açores.
Era para se ter ido a uma zona na Dorsal Médio-Atlântica – uma cordilheira cujos cumes são cortados por inúmeras fracturas transversais, e onde nasce crosta terrestre nova e as placas tectónicas se afastam. É a zona de fractura Hayes, a mais de 500 milhas dos Açores, que tem particular interesse para o projecto de extensão da plataforma continental portuguesa.
A proposta submetida por Portugal nas Nações Unidas, a 11 de Maio, para alargar a sua plataforma continental para lá das 200 milhas da zona económica exclusiva, chega, no bordo sul, até à zona de fractura Hayes. Queria ir-se até ali obter mais amostras de rochas que reforçassem as pretensões portuguesas de que existe uma continuidade geológica dos Açores até a essa zona.
Também existem ali fortes anomalias de metano na coluna de água, para o lado do excesso, o que é um sinal de poder haver fontes hidrotermais. Estas emanações de água quente do interior da Terra – com outros gases além do metano, como enxofre, e metais à mistura – fascinam cientistas e leigos desde que as primeiras foram descobertas no Pacífico em 1976. Os seus depósitos formam chaminés, por onde saem os fluidos, por vezes negros (como se vê na imagem no cabeçalho do Azul Profundo).
Em redor das fontes hidrotermais a grande profundidade, como no campo Lucky Strike, descoberto nos Açores em 1992, encontra-se uma abundância de vida, independente da luz solar e da fotossíntese. Na base da cadeia alimentar estão bactérias resistentes ao calor: extraem das fontes elementos químicos que constituem os seus nutrientes.
Um robô submarino como o Luso poderia farejar o metano em excesso na água, com os sensores que tem instalados. Vai ter de ficar para outra vez.
Uma tempestade ao largo dos Açores invialibizou essa parte da missão, tal como trocou as voltas à primeira tentativa de descer na bacia Hirondelle, na quarta-feira. Um dia depois o navio oceanográfico “Gago Coutinho” regressou à zona e, esta noite (madrugada de quinta para sexta-feira), o robô entrou na água aventurando-se nas profundezas açorianas de Hirondelle, a 40 milhas naúticas de Ponta Delgada.
Acaba de sair da água agora mesmo, pouco passa das 3h30 da madrugada (hora de Lisboa), ao fim de um mergulho de oito horas e meia. Os pontinhos luminosos da ilha vêm-se ao longe. Mais tarde falaremos desta aventura.

Hirondelle, uma cova entre ilhas

Ao fim de dois dias no mar, a navegar entre a Terceira e São Miguel, já são poucos aqueles que estão enjoados. Nota-se nas caras, muito mais animadas, e no apetite. A equipa científica e técnica a bordo do navio acabou de se deliciar com guloseimas e pão, feito pelos próprios a bordo (passa da meia-noite), servido com queijo e presunto, principalmente quando os mergulhos do ROV entram pela noite dentro.
É o caso agora: o robô está na água há seis horas e a viagem de exploração ainda está para durar outras três. Anda a viajar pela bacia Hirondelle, a cerca de 3000 metros de profundidade, entre a Terceira e São Miguel.
Actualizar as peripécias a bordo, os avanços e recuos de uma missão (também os há, sobretudo por causa do tempo), num blogue, é que nem sempre é fácil. Assim que estamos um pouco mais longe de terra, as placas de ligação à Internet já não funcionam ou funcionam a passo de caracol, interrompido vezes sem conta. Há ligação à Internet por satélite no navio, mas é caríssima.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Uma pequena floresta de corais

Apareceram umas quantas bolhas na descida do ROV esta manhã, quando ia aos 20 e tal metros. “Olha, olha, são bolhas”, apontava Mónica Albuquerque, bióloga da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), para o ecrã com imagens do que o robô submarino ia captando na descida no monte das Furnas de Fora, a poucas milhas da ilha de São Miguel.
Depois da excitação inicial, nada de bolhas. A tal bolha marota, detectada no mergulho anterior já na subida do ROV na coluna de água, não deu sinais de vida.
Os planos antes da partida: pôr o ROV a subir o monte, indo até lá acima a navegar quase junto ao fundo do mar, aterrando apenas aqui ou ali para apanhar uma rocha ou outra amostra interessante que aparecesse. “Vamos procurar a origem das bolhas e fazer amostragem geológica”, explicava, minutos antes do mergulho, Filipa Marques, geóloga da Faculdade de Ciências de Lisboa. “Neste mergulho, a biologia é secundária.”

O fundo estava a 424 metros e a partir daí, contrariando as expectativas iniciais, o interesse da viagem foi quase sempre biológico. “Viram a solha?”, perguntou Filipa Marques, do contentor onde o ROV é comandado à distância, no convés do navio, para a bióloga Íris Sampaio, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universiade dos Açores. “Afirmativo”, respondeu-lhe a bióloga, através de “walkie-talkie”, no Centro de Aquisição de Dados, noutra zona do navio, onde um ecrã gigante mostrava o que viam as câmaras do robô.
Eis que surgiram as gorgónias, que são corais, esconderijo ideal de peixes e crustáceos. Volta e meia, lá estavam os corais, uns cremes, outros cor de laranja. “Isto é uma pequena floresta”, comentava Nadine Pereira, engenheira geóloga da Universidade de Évora.
Uma esponja aqui, um canário-do-mar (peixe amarelo) ali, uma holotúria (animal de corpo mole da família dos ouriços e estrelas-do-mar) acolá. “Não aparece nem uma lavazita, nem uma coisa interessante”, queixava-se Ágata Dias, geóloga da Faculdade de Ciências de Lisboa.
“Já apareceu alguma coisa interessante”, quis saber o comandante do “Almirante Gago Coutinho”, Luís Bessa Pacheco, assim que entrou no Centro de Aquisição de Dados do navio. “Bolhinhas sim, mas aqui em baixo, nada”, lamentava Ágata Dias.
Todos estavam de olhos postos nos ecrãs, não fosse escapar alguma coisa. Saltou à vista um caranguejo-aranha com ar cómico: carregava um coral branco às costas, como se se enfeitasse com uma coroa real. Ou uma linha de pesca entre os corais, o que, dizia Íris Sampaio, mostra o impacto das pescas nestas comunidades.
A cirandar perto do fundo, o ROV enviava imagens de partículas continuamente a cair na coluna de água. São plantas e animais pequeninos ou restos daqueles que morreram. Mais parece uma chuva miudinha.
“Vamos amostrar rochas aqui. Há rochas com corais. Quais queres: dos laranjas ou dos brancos?”, comunicou a certa altura Filipa Marques a Íris Sampaio. “Dos laranjas, que são o meu objecto de estudo.”
Um dos braços do robô entrou então em acção. Recolheu sedimentos do fundo marinho com um tubo, que colocou numa caixa. Aspirou sedimentos, que guardou numa das suas câmaras. Puxou uma corda, para que se enchessem duas garrafas de água. Apanhou um basalto, com um coral cor de laranja lá plantado – tal e qual como Íris Sampaio pediu (na foto, Filipa Marques com a rocha acabada de trazer para bordo).
O mistério de onde vinham as bolhas de ar é que continua por desvendar. “Encontrar a origem das bolhas era como encontrar uma agulha num palheiro”, resumia Patrícia Conceição, geóloga da EMEPC. “Se as bolhas vieram de um edifício vulcânico, tínhamos mais de 300 metros por baixo de nós. Não conseguimos segui-las até à origem.”

A lei da bolha marota


Era um mergulho sem grande história, a duas milhas de São Miguel, numa zona chamada Furnas de Fora. Até que a geóloga Filipa Marques, da Faculdade de Ciências de Lisboa, reparou numas bolhas de ar a acompanhar o robô submarino português, enquanto olhava para os ecrãs com imagens do veículo debaixo de água. Virão do navio, o “Almirante Gago Coutinho”? Ou do próprio robô?
Até a esse momento, a história do mergulho de ontem (quarta-feira), o primeiro desde a partida do cais militar da Praia da Vitória, na ilha Terceira, resumia-se a um fundo de sedimentos. Nada de rochas, aquilo que quem está envolvido no projecto de extensão da plataforma continental portuguesa para lá das 200 milhas tanto quer trazer do fundo do mar. Amostras de basaltos, neste caso, podem ajudar a perceber quando é que o chão do mar deixa de ter as características geológicas dos Açores e passa a ter as características geralmente observadas na crosta oceânica. Quantas mais amostras recolhidas nos Açores, para fazer essa caracterização, melhor. Mais material existirá para comparação. Se a influência das rochas dos Açores se prolongar para lá das 200 milhas (ou seja, da zona económica exclusiva), Portugal poderá reclamar jurisdição sobre essa parte do solo e subsolo marinho.
Também nada de vida marinha exuberante, salvo uma gorgónia, uns camarões esbranquiçados atraídos pelas luzes do robô ou um cardume de pimpins e carapaus.
Como o veículo operado à distância (ROV) aterrou um pouco longe das Furnas de Fora, que é um monte a cerca de 300 metros de profundidade, a certa altura começou a navegar para o local pretendido, tal como o navio a que está ligado por um cordão umbilical. Mas as coisas não estavam a 100 por cento: um dos motores que mantêm a posição pretendida do navio não funcionava. E os ventos e as correntes complicavam tudo, pelo que foi tomada uma decisão: abortar a missão. O robô voltou para o navio e, mais tarde, seria largado num flanco do monte perto do topo.
“Nuno, estás a ver as filmagens?”, perguntou a certa altura Filipa Marques, pelo “walkie-talkie”, ao chefe da missão, o geólogo Nuno Lourenço. Ela encontrava-se dentro do "cérebro" do robô, um contentor no convés do navio, repleto de monitores, de onde o veículo é comandado dentro de água. Ele estava na ponte do “Almirante Gago Coutinho”, de onde se coordenam os movimentos do navio em função do sítio para onde se quer levar o robô. “Milhares de bolhas”, disse-lhe a geóloga.

Várias hipóteses
Cedo a hipótese de terem sido produzidas pelo navio foi excluída, porque as bolhas apareceram quando o robô ainda se encontrava a 26 metros de profundidade. Aprisionadas no robô também não devem ter sido. “Porque são muitas bolhas”, explicou Filipa Marques.
Outra hipótese começou a ganhar forma na cabeça dos geólogos. Estando perto de uma ilha vulcânica, talvez se esteja perante a perda de gases através da crosta terrestre.
Já com o robô no navio, os geólogos reuniram-se no contentor para discutir as imagens. “Vamos ter de mergulhar aqui outra vez, para procurar fissuras que deitem bolhas. Estou convencido de que não são do ROV. Estão muito longe do ROV”, dizia Nuno Lourenço. “O que me perturba é a história da lei da bolha marota.”
Uma bolha que tem uma lei e, ainda por cima, é marota? Na verdade, é a lei que explica o que acontece ao ar comprimido respirado pelos mergulhadores: à medida que descem no mar, as bolhas de azoto dissolvem-se no sangue e nos tecidos, depois se regressarem à superfície depressa demais, as bolhas aumentam de volume e podem causar a morte.
Esta lei que relaciona a pressão com o volume é conhecida pela lei de Boyle-Mariotte ou, como diz Nuno Lourenço a brincar, a lei da bolha marota. A “perturbação” do geólogo vem do facto de o robô ter aterrado a cerca de 600 metros: se as bolhas viessem dessa profundidade, lá em baixo não seriam detectadas por causa da pressão, mas perto da superfície deveriam ser muito maiores do que as observadas. “Estas bolhas são muito pequenas para gás que tenham vindo de 600 metros. Podem estar a ser levadas de uma zona menos profunda”, explicava Filipa Marques.
Para desvendar o mistério, o robô acabou de voltar à água esta manhã, perto do sítio onde terminou a visita de ontem. Acabou de descer agora pela coluna de água e atingir o fundo. Será que os geólogos vão ter as rochas que querem? Será que vão ver a lei da bolha marota em acção?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O vómito sempre à espreita


A sorte foi termos partido de noite para o Banco D. João de Castro e a bacia de Hirondelle (entre as ilhas Terceira e São Miguel), os primeiros destinos desta parte da missão. Caso contrário, o enjoo teria sido pior ou, pelo menos, teríamos tido mais consciência dos nossos estômagos. A dormir, com um comprimido anti-enjoo tomado, sempre podemos abstrair-nos das primeiras horas de habituação ao mar.
Mas o sono nunca é profundo. Há o barulho dos motores do “Almirante Gago Coutinho” e o marulhar constante. Há o balanço, esquerda, direita, esquerda, direita... Deitamo-nos de lado no beliche e parece que o navio cavalga as ondas. Deitarmo-nos de costas e tentamos deixar-nos embalar como crianças. O problema é que a cama nunca pára de mexer.
Espreitando lá para fora, pela escotilha da camarata, ainda de noite, a ondulação de uns dois metros rebenta numa espuma branca. Uma depressão ao largo dos Açores, tempestade que traz chuva, não ajuda muito nas primeiras horas de viagem. Além disso, o navio anda às voltas a perscrutar o Banco D. João de Castro com uma sonda multifeixe: ora faz uma linha em frente, ora uma linha para trás.
As três pessoas com quem partilho a camarata, parecem abstraídas de tudo. No beliche por cima, está a bióloga Mónica Albuquerque, da Estutura de Missão para a Extensão da Plataforma (EMEPC); nos beliches do lado, a engenheira geóloga Nadine Pereira, da Universidade de Évora, e Helena Matias, professora de geologia e biologia do ensino básico e secundário, no navio ao abrigo do programa Professores a Bordo, lançado pela EMEPC.
Tomar um duche, enjoada, a procurar o equilíbrio com o corpo e apoiando os cotovelos nas “paredes” do chuveiro, é uma aventura. O vómito está sempre à espreita. Espreita mesmo quando, terminada a sondagem multifeixe para produzir mapas do Banco D. João de Castro, fazemos a primeira paragem da manhã por cima da bacia de Hirondelle, com mais de 3000 metros de profundidade. A ondulação está má para pôr o ROV na água. Seguimos em frente, à procura de um sítio mais favorável, até chegarmos a meio da tarde a Furnas de Fora. É aqui que o ROV vai agora iniciar um mergulho, a cerca de 530 metros.
Porquê todo este esforço? Porque a curiosidade sobre o que se esconde por detrás do azul que cobre 70 por cento da Terra é muito maior do que uns dias de mal-estar. Porque quem estuda os oceanos costuma ter coisas interessantes para contar.
Poucos são sortudos, aqueles que nunca enjoam no mar. Poucos são desgraçados, aqueles que passam o tempo todo enjoados. A maioria enjoa e vomita dois ou três dias, depois passa e, venha lá o tempo que vier, nada acontece. Vamos ver se o estômago se sustém até ao fim do dia.

Um castelo e um penico entre a Terceira e São Miguel

Azul Profundo é um blogue que acompanha um cruzeiro científico do robô submarino português Luso ao mar dos Açores. Em vez de robô submarino, os cientistas chamam-lhe apenas ROV, a sigla inglesa de veículo operado remotamente, uma vez que é controlado à distância, através de um cabo ligado a um navio.
O cruzeiro é da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), um grupo científico incumbido pelo Ministério da Defesa de alargar o solo e o subsolo português para lá das 200 milhas naúticas em torno de Portugal continental e das ilhas.
Estamos a bordo do navio oceanográfico "Almirante Gago Coutinho", da Marinha portuguesa, que estava atracado no cais militar da Praia da Vitória, na ilha Terceira. Acaba de sair para o mar, para mais uma parte desta missão, que começou a 7 de Setembro e acabará 26 de Outubro. Mas agora também estamos a bordo, com geólogos, biólogos, engenheiros e uma professora do ensino básico e secundário, Helena Matias, que relatará a expedição igualmente num blogue (http://www.expedicaoacores.wordpress.com/).
Vamos em direcção ao Banco D. João de Castro, um vulcão submarino entre as ilhas Terceira e São Miguel. “É um vulcão com quatro torres e uma caldeira no meio. Parece um castelo”, descreve o geólogo Nuno Lourenço, da EMEPC e chefe da missão.
O ponto mais alto do Banco D. João de Castro fica a 12 metros de profundidade, mas houve tempos em que foi uma ilha. Uma erupção elevou-o uns 90 metros fora de água. O objectivo é cartografar o banco, com uma sonda multifeixe, para daí elaborar mapa do fundo do mar com grande resolução.
Pouco depois, o navio seguirá para a bacia Hirondelle, também entre a Terceira e São Miguel. É uma zona com cerca de 3300 metros de profundidade. Nuno Lourenço diz que é como um penico. Aí, o ROV deverá mergulhar e a recolha de amostras de rochas, com os seus braços manipuladores, é a prioridade. As rochas destinam-se a análises para o projecto de extensão da plataforma continental.
Saímos do cais há cerca de uma hora, o balanço do navio, ora para cá, ora para lá, já começa a dar os primeiros sinais no estômago. Esta quarta-feira vai ser difícil.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mar Sonoro

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Dia do Mar”