quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O vómito sempre à espreita


A sorte foi termos partido de noite para o Banco D. João de Castro e a bacia de Hirondelle (entre as ilhas Terceira e São Miguel), os primeiros destinos desta parte da missão. Caso contrário, o enjoo teria sido pior ou, pelo menos, teríamos tido mais consciência dos nossos estômagos. A dormir, com um comprimido anti-enjoo tomado, sempre podemos abstrair-nos das primeiras horas de habituação ao mar.
Mas o sono nunca é profundo. Há o barulho dos motores do “Almirante Gago Coutinho” e o marulhar constante. Há o balanço, esquerda, direita, esquerda, direita... Deitamo-nos de lado no beliche e parece que o navio cavalga as ondas. Deitarmo-nos de costas e tentamos deixar-nos embalar como crianças. O problema é que a cama nunca pára de mexer.
Espreitando lá para fora, pela escotilha da camarata, ainda de noite, a ondulação de uns dois metros rebenta numa espuma branca. Uma depressão ao largo dos Açores, tempestade que traz chuva, não ajuda muito nas primeiras horas de viagem. Além disso, o navio anda às voltas a perscrutar o Banco D. João de Castro com uma sonda multifeixe: ora faz uma linha em frente, ora uma linha para trás.
As três pessoas com quem partilho a camarata, parecem abstraídas de tudo. No beliche por cima, está a bióloga Mónica Albuquerque, da Estutura de Missão para a Extensão da Plataforma (EMEPC); nos beliches do lado, a engenheira geóloga Nadine Pereira, da Universidade de Évora, e Helena Matias, professora de geologia e biologia do ensino básico e secundário, no navio ao abrigo do programa Professores a Bordo, lançado pela EMEPC.
Tomar um duche, enjoada, a procurar o equilíbrio com o corpo e apoiando os cotovelos nas “paredes” do chuveiro, é uma aventura. O vómito está sempre à espreita. Espreita mesmo quando, terminada a sondagem multifeixe para produzir mapas do Banco D. João de Castro, fazemos a primeira paragem da manhã por cima da bacia de Hirondelle, com mais de 3000 metros de profundidade. A ondulação está má para pôr o ROV na água. Seguimos em frente, à procura de um sítio mais favorável, até chegarmos a meio da tarde a Furnas de Fora. É aqui que o ROV vai agora iniciar um mergulho, a cerca de 530 metros.
Porquê todo este esforço? Porque a curiosidade sobre o que se esconde por detrás do azul que cobre 70 por cento da Terra é muito maior do que uns dias de mal-estar. Porque quem estuda os oceanos costuma ter coisas interessantes para contar.
Poucos são sortudos, aqueles que nunca enjoam no mar. Poucos são desgraçados, aqueles que passam o tempo todo enjoados. A maioria enjoa e vomita dois ou três dias, depois passa e, venha lá o tempo que vier, nada acontece. Vamos ver se o estômago se sustém até ao fim do dia.

2 comentários:

Bargao_Henriques disse...

Enjoos, como eu a compreendo...
Espero que acabe por se conseguir abstrair, para que possa enfim aproveitar ao máximo a excelente experiência que essa expedição lhe poderá proporcionar.

Pedro Veiga disse...

Boa missão! É o meu desejo! Espero que tenha uma rápida adaptação às ondas. O trabalho de mar é sempre muito duro ao contrário do que a generalidade das pessoas pensam. Vou seguir este blog com atenção.