sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mau tempo trama visita à zona de fractura Hayes

É muito fácil os planos saírem furados no mar. O tempo é um dos grandes culpados. Já houve planos trocados nesta missão do robô submarino português ao largo dos Açores.
Era para se ter ido a uma zona na Dorsal Médio-Atlântica – uma cordilheira cujos cumes são cortados por inúmeras fracturas transversais, e onde nasce crosta terrestre nova e as placas tectónicas se afastam. É a zona de fractura Hayes, a mais de 500 milhas dos Açores, que tem particular interesse para o projecto de extensão da plataforma continental portuguesa.
A proposta submetida por Portugal nas Nações Unidas, a 11 de Maio, para alargar a sua plataforma continental para lá das 200 milhas da zona económica exclusiva, chega, no bordo sul, até à zona de fractura Hayes. Queria ir-se até ali obter mais amostras de rochas que reforçassem as pretensões portuguesas de que existe uma continuidade geológica dos Açores até a essa zona.
Também existem ali fortes anomalias de metano na coluna de água, para o lado do excesso, o que é um sinal de poder haver fontes hidrotermais. Estas emanações de água quente do interior da Terra – com outros gases além do metano, como enxofre, e metais à mistura – fascinam cientistas e leigos desde que as primeiras foram descobertas no Pacífico em 1976. Os seus depósitos formam chaminés, por onde saem os fluidos, por vezes negros (como se vê na imagem no cabeçalho do Azul Profundo).
Em redor das fontes hidrotermais a grande profundidade, como no campo Lucky Strike, descoberto nos Açores em 1992, encontra-se uma abundância de vida, independente da luz solar e da fotossíntese. Na base da cadeia alimentar estão bactérias resistentes ao calor: extraem das fontes elementos químicos que constituem os seus nutrientes.
Um robô submarino como o Luso poderia farejar o metano em excesso na água, com os sensores que tem instalados. Vai ter de ficar para outra vez.
Uma tempestade ao largo dos Açores invialibizou essa parte da missão, tal como trocou as voltas à primeira tentativa de descer na bacia Hirondelle, na quarta-feira. Um dia depois o navio oceanográfico “Gago Coutinho” regressou à zona e, esta noite (madrugada de quinta para sexta-feira), o robô entrou na água aventurando-se nas profundezas açorianas de Hirondelle, a 40 milhas naúticas de Ponta Delgada.
Acaba de sair da água agora mesmo, pouco passa das 3h30 da madrugada (hora de Lisboa), ao fim de um mergulho de oito horas e meia. Os pontinhos luminosos da ilha vêm-se ao longe. Mais tarde falaremos desta aventura.

3 comentários:

nuno disse...

grande parte desssas bactérias que se encontram nas fontes hidrotermais não são, na realidade, bactérias.
são arqueas, anteriormente conhecidas com arqueobactérias. são um ramo à parte na árvore da vida, com metabolismos e composições diferentes das bactérias "normais".

Carlos Faria disse...

Ontem alguém me deixou um comentário com um link para este blog, hoje veio a descoberta e a exploração. Fiquei viciado na expedição, pelo que doravante irei seguir o azul profundo e desejar suscesso máximo para os objectivos científicos e políticos a ela associados.

Neisseria Gonorrhoeae disse...

Seguirei com afinco esta expedição aos mares da minha terra